Desde pequena eu sempre fui apaixonada por contos de fadas. Eu assistia muito - e sempre - o seriado Teatro dos Contos de Fadas, que passava na TV Cultura e me perdia naquelas histórias que elevavam a nossa imaginação a patamares inalcançáveis para quem não sabe sonhar. E desde aquela longínqua época em que eu era uma menininha, um dos meus contos favoritos era o da Rainha das Neves.
O conto é de Hans Christian Andersen, um dos bastiões dos Contos de Fadas, tão importante e famoso quanto os próprios onipresentes irmãos Grimm.
Um maldoso anão tinha fabricado um espelho mágico, que transformava em más pessoas, todos os que nele se mirassem. Mas o espelho quebrou-se e seus pedaços foram se espalhando pelo mundo. Dois deles foram para uma sacada onde brincavam duas crianças, Gerda e Kai, e penetraram nos olhos e no coração do menino que, desde aquele momento, se transformou, de bom, no pior garoto da cidade.
Quando o inverno chegou, ia Kai, um dia, pelas ruas cobertas de neve, montado em seu pequeno trenó, quando viu um grande trenó branco, que corria velozmente. Enganchou o seu naquele e, desse modo, fez-se arrastar na vertiginosa carreira. Mas viu, logo depois, com terror, que o misterioso veículo saía das muralhas da cidade e precipitava-se pelos campos. Por fim, o trenó se deteve e dele desceu a Rainha das Neves, completamente vestida de branco, que se inclinou para o menino, beijando-o. Ao sentir aquele beijo, Kai adormeceu. A fada tomou-o nos braços e levou-o ao seu longínquo país.
Os dias passavam e Gerda em vão esperava Kai, que não regressava. Afinal, resolveu ir procurá-lo pelo mundo. Dirigiu-se para o rio, subiu numa barquinha e deixou-se levar pela correnteza. A embarcação, depois de muito navegar, foi deter-se num jardim cheio de flores, onde havia uma velha, que acolheu carinhosamente a menina Gerda e conduziu-a a uma pequena casa feita de vidros coloridos. Ali penteou-a com um pente mágico e a menina de tudo se esqueceu e ficou, naquele jardim encantado, vivendo muito feliz.
Um dia, entretanto, viu umas rosas, que lhe recordaram o roseiral por ela plantado, com o auxílio de Kai, na sua pequena sacada, em casa, e voltou-lhe à mente a lembrança do irmão desaparecido. Resolvida a encontrá-lo, fugiu para o bosque e caminhou muito, sem sentir-se fatigada, até que encontrou uma menina, que morava numa casa meio em ruínas. A desconhecida, ao ouvir a história de Gerda, quis ajudá-la e levou-a para sua casa, onde perguntou aos pombos, pousados no telhado, se sabiam alguma coisa a respeito de Kai. "Sim!" responderam eles. "A Rainha das Neves o levou com ela".
A menina do bosque deu-lhe, então, um magnífico cervo que possuía havia tempo, dizendo ao animal: "Devolvo-te a liberdade, mas, em troca, leva esta minha amiga ao palácio da Rainha das Neves, que se acha em teu país." Em seguida, ajudou a pobre Gerda a montar no lombo do animal, que partiu em disparada. Atravessaram campos, bosques, pântanos e, por fim, chegaram à Finlândia, onde estava situado o castelo da fada e o cervo fez a menina descer no jardim.
Ao ficar sozinha, Gerda viu caírem a seu redor grandes flocos de neve, que se juntaram, procurando afogá-la. Mas a menina orou com fervor e, imediatamente, tudo se acalmou. Então, a menina entrou no castelo, onde encontrou Kai, que estava só e não a reconheceu. Gerda abraçou-o, chorando e suas lágrimas, ao penetrarem no coração do menino, fizeram sair o fragmento do espelho, que nele se havia encravado. Kai também chorou e, desse modo, o outro fragmento que havia penetrado em seus olhos, também saiu. O menino, só então, reconheceu sua pequena amiga e com ela fugiu daquela prisão gelada. O cervo esperava-os lá fora para levá-los de volta ao seu país.
(Retirado e adaptado de Contos de Encantar)
Esse é um conto que fala, acima de toda a parte "mística", da amizade entre duas pessoas diante de uma grande adversidade. Mesmo sem saber o que a esperava e que tipo de riscos poderia correr, Gerda foi atrás do amigo Kai. É grandioso ver que existem pessoas que prezam pelo outro a despeito de si próprias. Não sei se quando criança eu conseguia enxergar isso ou se apenas me encantava com a beleza da Rainha das Neves ou com a casa cheia de flores, com a aventura que Gerda viveu... O que torna mais gostoso ainda de revisitar o conto e perceber aquelas nuances de moral. Até onde vamos por um amigo hoje em dia? Quantos de nós se dispõem a enfrentar o mundo para salvar a vida dele?
Seguindo adiante, assim como quase todos os contos de fadas existentes, esse também ganhou várias versões cinematográficas - e está com algumas sendo preparadas para este ano ainda.
Como citado anteriormente, existe um episódio do Teatro dos Contos de Fadas, que você pode conferir na íntegra aqui (dublagem original, é de chorar pra quem acompanhou na época, sério!!):
Em 1995 foi feita uma animação contando a história. Cada interpretação trata a Rainha da Neve de uma forma, mas é interessante como poucas mostram como ela deve ser sem sentimentos e não maligna. Enfim, eu admito que, apesar de ter assistido poucas adaptações, eu realmente gosto do conto.
Tem também o filme A Rainha das Neves (Snow Queen) de 2002, criado pela Hallmark Entertainment e com a atriz Bridget Fonda no papel título. Nunca assisti, mas de acordo com a sinopse ao invés de amigos, Kai e Gerda são retratados como namorados.
Existe ainda o filme "A Rainha da Neve", de 2005, da BBC Video, que parece retratar mais fielmente a história.
A Disney também está preparando uma versão totalmente sua para o conto, programado para sair ainda este ano, nos meados de novembro.
E, claro, não poderia deixar de ser...
A HQ Fables, da Vertigo, também tem sua própria versão da história da Rainha da Neve. Lumi, a impiedosa Rainha Gelada, aliada principal do Grande Adversário, braço direito e porta voz do maligno. Belíssima e perigosa, quem lê a história nem consegue imaginar que a pálida e gélida criatura tinha um passado muito diferente do presente que se apresentava.
Lumi era uma mulher boa e amável, mas uma terrível desilusão amorosa endureceu seu coração ao ponto de torná-la rancorosa e perigosa. Pouco explorada, mas com imenso potencial, foi uma das primeiras personagens que eu conheci da revista e quem me atraiu para ler.
A Rainha das Neves também foi eternizada em uma música, com a qual encerro o post. Fiquem com Ice Queen, do Within Temptation.
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